AVENTURAS AUSTRAIS 2017-2018 (PARTE 1)

4 de fevereiro de 2018

Relato e fotos da temporada de expedições da KALAPALO EDITORA na Patagônia chilena durante o verão de 2017/18 

Scott Scale 710 Plus de Guilherme Cavallari em acampamento selvagem às margens do Lago Bayo, no Valle Exploradores, Chile.

Depois de não sei quantas viagens à Patagônia — uma delas de seis meses de duração, que gerou o premiado filme-documentárioTRANSPATAGÔNIA e o consagrado livro TRANSPATAGÔNIA, PUMAS NÃO COMEM CICLISTAS —, já considero a região como “o quintal de casa”… Mas o problema é que esse “quintal” parece não ter fim. 

Tenho diversos “assuntos pendentes” na Patagônia… Lugares que ainda não conheço, trilhas que não percorri, histórias que não entendi por completo e experiências que faltam no meu currículo. Após quatro anos de ausência na região, decidi retornar e levar alguns aventureiros comigo. Gente interessada em desfrutar a intensidade vital que sempre caracteriza minhas passagens por essas terras austrais. 

 

Todas as mochilas alinhadas e prontas para o início da travessia em Chile Chico. Foto: Rodolpho Ugolini

E só pra lembrar, esse período distante da Patagônia eu passei ocupado explorando as Highlands da Escócia, que visitei em duas expedições: a CAPE WRATH TRAIL, quando percorri sozinho e em trekking os 450 km roteiro semisselvagem considerado “a trilha mais difícil da Grã-Bretanha”, cruzando de sul a norte a região das Highlands; e EXPEDIÇÃO HIGHLANDS TANDEM KALAPALO, quando pedalei uma mountain bike dupla com minha esposa, Adriana Braga, por 700 km cruzando as Highlandsde leste a oeste. Essas viagens resultaram no vídeo-documentário HIGHLANDS e no livro HIGHLANDS, POR BAIXO DO SAIOTE ESCOCÊS

Uma expedição, para mim, é essencialmente um ambiente didático. Por expedição, entendo uma experiência independente, autônoma e autossuficiente, com objetivos exploratórios, realizada em ambiente natural e sem a ajuda de qualquer tipo de veículo motorizado. Quanto mais selvagem o ambiente, quanto mais exploração houver, quanto mais incertezas existirem, mais aventura haverá e, consequentemente, melhor será a expedição. E o resultado didático, o saldo do aprendizado, ocorre tanto no ambiente externo e geográfico quanto no ambiente interno e psicológico. 

Ricardo Bueno de Paula e Guilherme Cavallari em Coyhaique, no primeiro dia da viagem em bikepacking pela Carretera Austral.

Como vem acontecendo todos os anos, há bastante tempo, em 2017 ministrei diversas turmas do CURSO DE TREKKING e algumas turmas do CURSO DE BIKEPACKING que desenvolvi em 2016. Os alunos mais empolgados, mais interessados e com maior disponibilidade que participaram desses cursos se inscreveram e foram selecionados para a temporada de verão da Patagônia que relato aqui. Para participar da aventura austral os requisitos necessários eram um misto de forma física, equipamento e personalidade. Nada complicado. Não era preciso ser atleta, não era obrigatório ter uma montanha de equipamento top e nem passar por uma bateria de testes psicotécnicos. 

Cruzando o Rio Jeinimeni no Valle Hermoso, na Reserva Nacional Lago Jeinimeni. Foto: Rodolpho Ugolini

No final, viajamos de mountain bike por 600 km pela Carretera Austral em estilo bikepacking, acampando selvagem e pedalando por estradas de terra, e caminhamos cerca de 150 km pela região do futuro PARQUE NACIONAL PATAGÔNIA, repetindo a TRAVESSIA DO PARQUE PATAGÔNIA que eu havia realizado em 2012 sozinho e 2014 com outro grupo de alunos. Passei 40 dias na Patagônia e tive o privilégio de conviver com um grupo eclético e interessante de pessoas tão interessadas na natureza quanto eu. Companheiros de mente aberta a novas experiências e dispostos tanto a aprender quanto a “desaprender”, conforme a necessidade. Em expedições, descobri que muitas vezes é mais importante deixar conceitos e fórmulas para trás do que adquirir novos conhecimentos. Mas isso ficará mais claro ao longo dessa narrativa. 

Na primeira etapa da temporada, realizada de 28 de dezembro de 2017 a 11 de janeiro de 2018, batizada de EXPEDIÇÃO TRANSPATAGÔNIA BIKEPACKING, percorriemos 609 km em 12 dias pela Patagônia chilena, usando a Carretera Austral e meu livro GUIA DE TRILHAS CARRETERA AUSTRAL como linha-mestra.Nessa viagem, o elemento de exploração foi o Valle Exploradores, uma importante ligação do gigantesco Lago General Carrera com o Oceano Pacífico. Um cenário de montanhas escarpadas, geleiras e cachoeiras monumentais. O clima foi inclemente e dos 12 dias de pedal, 11 foram chuvosos e frios. O único participante, além de mim, foi um mineiro de 46 anos radicado há quase 30 anos em Brasília (DF). 

Na segunda etapa, realizada de 18 a 28 de janeiro, batizada de TRAVESSIA DO PARQUE PATAGÔNIA, caminhamos por cerca de 146 km, da entrada da Reserva Nacional Jeinimeni até a a entrada da Reserva Nacional Tamango. Tive oito companheiros nessa aventura, cinco homens e três mulheres entre 33 e 59 anos de idade, todos formados em meu CURSO DE TREKKING. Além da travessia, o grupo explorou o vale do Estero Ventisquero no Valle Hermoso, em Jeinimeni, e explorou todo o entorno do Lago Gutierrez, no Valle Chacabuco. Dos 11 dias de trekking, só tivemos céu cinzento e chuva por algumas poucas horas no final do quinto dia de caminhada. 

Cockpit da bike de Guilherme Cavallari durante exploração do Valle Exploradores, Patagônia, Chile.

Como esperado, conhecemos personagens dignos de contos no caminho, ficamos boquiabertos diante de cenários cinematográficos, sofremos pequenos acidentes e fomos confrontados com nossos limites pessoais de forma regular. Saímos de casa com roteiros a cumprir, limitados pelo cronograma imposto por nossas obrigações pessoais e profissionais, parcialmente cientes de nossos potenciais e nossas deficiências. 

Cena dos metros finais do dia mais longo e mais difícil de toda a travessia em trekking, depois de mais de 20 km e mais de 10 horas. Foto: Rodolpho Ugolini

Cumprimos nossa missão? 

Essa é uma pergunta capciosa, cuja resposta é bem mais complicada do que um simples “sim” ou “não”. Uma pergunta que espero responder enquanto relato nossos passos pela Patagônia, enquanto relembro momentos, paisagens e situações nesse texto que será dividido em alguns capítulos. 

Lago Gutierrez, no Valle Chacabuco e Parque Patagônia, no sexto dia da travessia em trekking. Foto: Rodolpho Ugolini

Ficou interessado? Então venha viajar conosco nesse texto! 

PARA LER OS DEMAIS CAPÍTULOS DESSA NARRATIVA, ACESSE MEU BLOG

Até breve! 

Guilherme Cavallari e a KALAPALO EDITORA contam com o apoio das marcas:

 

 

 

 

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