A ESCALADA / ANATOLI BOUKREEV e G. WESTON DEWALT

31 de julho de 2013

A ESCALADAAnatoli Boukreev não era escritor, mas era uma dos maiores escaladores de alta montanha de seu tempo, até desaparecer sob uma avalanche nas encostas do Annapurna, no Himalaia, aproximadamente um ano após ter narrado a história desse livro ao escritor G. Weston DeWalt e somente um mês após o lançamento do livro.

Boukreev, como era conhecido, ganhou fama fora do circuito de alta montanha ao participar da fatídica temporada de escalada do Everest, na primavera de 1996, como guia de uma expedição comercial. Seis pessoas morreram numa única noite, entre clientes, guias e um empresário líder de expedições. Foi uma tragédia sem precedentes na história da montanha e levantou a questão da ética dessas mesmas expedições comerciais que, pela bagatela de 60.000 a 100.000 dólares, colocam praticamente qualquer um no topo da montanha mais alta do mundo.

A Escalada é uma resposta às críticas feitas pelo jornalista e escritor de renome Jon Krakaeur, em seu livro, No ar rarefeito, ao profissionalismo de Broukreev enquanto guia. Krakaeur diz que Boukreev parecia estar mais preocupado em escalar do que guiar e zelar pela segurança dos clientes da expedição. Mas,outra face da verdade é que Broukreev arriscou a própria vida para salvar escaladores amadores em apuros, realizando um resgate que lhe valeu inclusive o reconhecimento e prêmios de ética no esporte.

Nas entrelinhas da obra, aos bons leitores, levanta-se a questão uma ética não somente pertinente à escalada em alta montanha, mas também na vida cotidiana e mundana de todos nós. No Everest, Boukreev não escondia seu desgosto com os clientes bem-pagantes da expedição onde ele trabalhava. Questiona abertamente se esses clientes deveriam realmente estar na montanha, colocando suas vidas em risco e a vidas dos guias e sherpas que os acompanhavam. Essa atitude crítica talvez tenha sido o verdadeiro estopim dos comentários pouco simpáticos de Krakauer depois. Mas o questionamento trata do limite do dinheiro. É possível pagar ingresso para chegar ao topo do Everest, mas isso não faz de ninguém um montanhista de verdade. Sem autonomia, autossuficiência, independência, senso crítico, disciplina pessoal e liberdade qualquer grande escalada pode virar uma simples excursão.

Esse livro é vibrante e nos leva não somente ao cume do Everest, mas também à alma de um homem dedicado à montanha. Meus amigo Paulo e Helena Coelho, participantes da primeira expedição brasileira ao Everest e agraciados com o prêmio Fair Play da UNESCO justamente pelo resgate de um escalador a mais de 7.000 metros no próprio Monte Everest, em 1999, leram e recomendaram esse livro à mim. Eu o recomendo a vocês.

A Escalada – A Verdadeira História da Tragédia no Everest
G. Weston DeWalt
Editora 34
320 páginas
ISBN 85-7326-108-0
www.editora34.com.br

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


MARCAS QUE APÓIAM NOSSOS PROJETOS: