EXPEDIÇÃO TRANSPATAGÔNIA / EL CALAFATE, ARGENTINA

19 de novembro de 2012


Bem que eu gostaria de escrever com mais frequência no blog, como muitos amigos sugerem, mas simplesmente não dá… Tem dias que não consigo nem escovar os dentes antes de dormir, de tão cansado e de tanta coisa que fiz e tenho que fazer… E também tem a questão da conexão. Internet e Patagônia são conceitos que não se misturam muito bem. Pior que água e azeite. E um milhão de coisas aconteceram do meu último post até agora, entre elas, fiz 50 anos de idade…

SEGUNDA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO

Dia de dúvidas!

Parti de Villa O’Higgins, no extremo sul da Carretera Austral, com sol forte e nenhum vento, rumo ao pouquíssimo conhecido Paso Mayer Ribera Norte – El Bello. Para ser sincero, eu mesmo tinha pouca informação a respeito do caminho. Confesso que fui meio “na roubada”, como a gente diz em gíria de trilha…


Os 48 quilômetros pelo Vale do Rio Mayer foram maravilhosos e fiz dúzias de fotos. O caminho vai subindo delicadamente e de forma constante, a vegetação muda e fica mais verde, mais alta, mais “alpina” (embora eu devesse dizer “andina”). Um lago azul forte, quase anil, coroa o cenário e dá vontade de parar e fazer acampamento ali mesmo. Não há grandes dificuldades até chegar ao fim da estrada e ao posto dos Carabineros de Chile, onde se faz o controle de passaporte para deixar o país. Mas é preciso acordar os oficiais, que não tem absolutamente nada para fazer o dia todo, todos os dias, o ano todo. Praticamente não passa turistas por lá. Vocês vão logo entender por quê…


Os Carabineros não estavam muito despertos e não me informaram bem como chegar a uma passarela – uma ponte pênsil de cabos de aço, arames e tábuas – usada para mover rebanhos de ovelhas de um pasto para outro sobre o portentoso Rio Carrera, já em território argentino. Entendi vagamente que a passarela ficava a uns dois ou três quilômetros de distância, em linha reta, e que o posto da Gendarmeria argentina ficava “muy lejos, para allá”… Os chilenos mandaram eu falar com um habitante local, que conhecia bem as trilhas e me informaria em detalhes o percurso… “Pero atención, el tipo está mamado!” (cuidado, o cara está de porre!).

Realmente o morador local estava imprestável, mas seu cunhado, sóbrio e solícito, me explicou, por mais de uma hora e em minuciosos detalhes, como chegar até a passarela. Ele inclusive me acompanhou por 200 metros e me ajudou a passar a bike e o bike trailer por cima de uma cerca de arame… Eu estava na Argentina.


Uma trilha de cavalos me levou pelo bosque até um riacho, que atravessei descalço com a bike nas costas e depois o bike trailer. O segundo do dia, porque tinha outro na frente do posto de controle chileno. Subi um barranco íngreme de barro e pedras soltas, novamente com o equipamento nos ombros, e cheguei a uma planície com um milhão de trilhas de ovelhas cortando o platô em todas as direções. Eu sabia que tinha de ir na direção de um pico mais pontiagudo, nevado, no horizonte.

Tentei o mais que pude desviar dos arbustos espinhudos conhecidos como matorrales, tentei manter a direção desejada. Por quase duas horas andei em ziguezague até chegar às margens do Rio Carrera. A essa altura o pneu traseiro da bike já estava furado e minhas pernas todas raladas. O rio estava violento, impossível passar pela água sem um bote ou algo semelhante. No inverno veículos 4×4 cruzam sem grandes problemas, no verão só a pé ou empurrando a bike pela passarela, que encontrei centenas de metros rio acima.


Primeiro cruzei sozinho, para testar a ponte – precária, estreitíssima, mas aparentemente segura. Depois passei com o bike trailer, que teve que ir no ombro na parte final, porque a passarela era apertada demais. Depois com a bike e minha mochila. E pela quarta e última vez para buscar a filmadora, que ficou trabalhando sozinha na margem do rio.


Do posto policial chileno até a outra margem do Carrera eu levei três horas e percorri pouco mais de dois quilômetros… Mas, quando cheguei do lado de lá percebi que o problema tinha apenas começado!


O caminho de 4×4 marcado no barro e nas pedras levava para um grande baixio com um rio correndo em direção ao Carreras. Mas o rio estava crescido pelas chuvas recentes e pelo degelo da primavera, resultando em dezenas de braços de água, de todos os tamanhos e profundidades possíveis, correndo em todas as direções. Uma confusão bem molhada. 

Por mais de uma hora caminhei e empurrei meu comboio de um lado para outro, buscando não perder de vista os rastros de 4×4. De repente eles sumiram e eu me vi no meio do campo alagado, cercado de riachos por todos os lados e com as solas dos pés latejando de caminhar descalço sobre pedras. Eram 19:30 e eu não queria mais seguir adiante e correr o risco de caminhar à noite por terreno difícil e desconhecido. Montei acampamento no meio do nada.

TERÇA-FEIRA, 13 DE NOVEMBRO

Dia de água!

Fiz muito bem em acampar e descansar a cabeça e o corpo. Na manhã seguinte, depois de desmontar acampamento e tomar café da manhã, reencontrei o caminho de 4×4 em cinco minutos. Também entendi a lógica do trajeto, a direção que devia seguir e porque – para encontrar uma passagem nos morros próximos para um corredor atrás dos morros, paralelo às altas montanhas ainda com neve no fundo do vale. No dia anterior minha cabeça já não funcionava muito bem…

Mudei de tática. Calcei as botas de trekking, que não me importo em molhar (como fiz no Trekking Parque Patagonia, nessa mesma expedição, link para post no blog), e saí atravessando os rios, empurrando a bike e sentindo o bike trailer navegar atrás de mim como um pequeno bote de rafting. Às vezes a água chegava à altura do meu umbigo e a correnteza tentava arrancar a bike e o trailer das minhas mãos, mas com as botas nos pés eu firmava o corpo e rompia a correnteza até a margem oposta. Em um ou outro momento senti aquele arrepio de calor típico da adrenalina correndo o corpo.

Atravessei o braço maior do rio, com bastante dificuldade, e alcancei uma trilha de cavalos que vinha do bosque que rodeava a grande área alagada… Uma alternativa que eu deveria ter tomado, ao invés de seguir a trilha de 4×4. Em terra firme, me vi dentro de um bosque florido, iluminado de sol, seco, gramado, com a cantoria de inúmeros pássaros por trilha sonora (e uma multidão de borrachudos patagônicos para tentar estragar a festa), parei para almoçar, trocar a câmara de ar do pneu traseiro da bike e secar o equipamento dentro do bike trailer. A bolsa impermeável não era submersível.


Mais duas horas e um riacho para cruzar com água na cintura, cheguei ao posto de controle argentino. Os policiais me olhavam como se eu fosse o Ronaldinho Gaúcho ou o Neymar… Uma celebridade brasileira. Fui convidado para o almoço – arroz e trutas pescadas no dia anterior. Tudo porque, segundo eles e os livros de controle que vi, eu era o primeiro brasileiro a cruzar o Paso Mayer em bicicleta e o terceiro desde janeiro a fazer de bike. Contei menos de duzentos nomes em um ano de controle, a imensa maioria argentinos e chilenos indo e vindo a trabalho no campo.


Havia ainda mais um rio a cruzar – muito largo e volumoso, que me deixou temeroso – mas que consegui vencer sem me molhar… Graças à carona inesperada na caçamba de uma caminhonete 4×4, do dono das terras da região e construtor da famosa passarela – Don Ramiro Gregoria, da Estancia Tucutucu. Uma sorte e uma alegria, nos demos muito bem e marcamos de tomar um vinho juntos em Bariloche ao final da expedição, onde ele vive parte do ano.

Eu tinha diante de mim cerca de 91 km de estrada de terra até o entroncamento com a Ruta 40, asfaltada nesse trecho, que me levaria até pertinho de El Calafate. Eram 15:30 quando comecei a pedalar depois do último rio e eu sabia que não chegaria ao asfalto sem um acampamento. 


Pedalei 40 quilômetros bastante concentrado, até às 19:30, quando senti que não dava mais. Tinha percorrido míseros 56 quilômetros o dia todo, desde às 9:00 em ponto. Estava moído. Vi um trailer estacionado ao lado de um trator e pedi permissão aos funcionários de manutenção da estrada para acampar junto deles. Tudo OK, mas eles partiriam para outro acampamento 10 km adiante. Fiquei escondido do vento forte, que soprou o dia todo nas minhas costas, atrás do barranco cavado por tratores. Por companhia apenas uma pequena raposa que circundava minha barraca.

QUARTA-FEIRA, 14 DE NOVEMBRO 

Dia da tragédia!

Numa descida longa e rápida, que eu fazia tentando ganhar tempo e aproveitar o vento a favor, ouvi um forte estalo. Parei imediatamente e verifiquei o equipamento… O bike trailer havia rachado! Uma das soldas havia quebrado e possibilitou uma torção no corpo do carrinho, que por sua vez rachou na barra superior.

Eu já tinha visto vários bike trailers rachados desde o começo da expedição, mas todos eram facilmente consertados com soldas rápidas porque eram construídos em ligas de ferro e com tubos circulares. O problema é que meu bike trailer é de alumínio e tem barras retangulares – que ninguém solda em lugar algum e, mesmo se soldar, não fica bom porque perde a têmpera do metal… Ou seja, o equipamento estava condenado. Restava saber se eu também.


Mas vale a explicação didática… Não foi falha mecânica do material (o bike trailer é de excelente qualidade), nem barberagem minha (que sou extra cuidadoso e bom piloto de MTB), acontece que a trepidação é intensa demais em estradas off road e soldas abrem o bico mesmo. O problema é o material do trailer. Alumínio não dispersa impacto e exige soldas super reforçadas. Fiz uma amarração com cordim de escalada de 3 mm, em “X”, que manteve a rachadura fechada e aparentemente estável. Segui viagem. O que mais eu podia fazer?


Pedalei mais de 40 quilômetros morrendo de medo a cada pedra, buraco, valeta que encontrava no caminho. Cheguei ao asfalto da Ruta 40 aliviado. O vento a favor era fortíssimo e consegui manter média de 32 km/h por duas horas. Num posto de trabalho do órgão público que faz manutenção nas estradas, em Tamel Aike, um argentino muito gentil e prestativo – Don Roberto Angel Alfaro, me ajudou a remendar o trailer com barras de ferro de construção e arame. Parei para acampar nas ruínas de uma casa abandonada à margem do Rio Chico, onde o asfalto da Ruta 40 termina e bifurca em direção a Gobernador Gregores.


Esse foi um dia bem longo, de 105 km percorridos.

QUINTA-FEIRA, 15 DE NOVEMBRO 

Dia de festa!


A perspectiva de 185 quilômetros de terra e cascalho em condições precárias era aterrorizadora. Se o trailer resistisse a esse trecho, acho que chegaria até Ushuaia, onde eu me encontrarei com minha mulher, Adriana, que poderia levar um trailer novo para mim… Mas eu duvidava que o equipamento resistiria. E, de certa forma, não resistiu…


O dia estava estranho, sem nenhum vento, com enormes nuvens individuais estacionadas no céu como numa conferência de balonistas. Eu sentia um clima de ansiedade, como se tudo à minha volta esperasse por um acontecimento qualquer – talvez a volta do vento simplesmente.


Eu estava tão concentrado, tão focado em conseguir chegar à vila de Tres Lagos, 94 quilômetros adiante e recomeço do asfalto, que só lembrei que era o dia do meu aniversário às 12:34 (olhei no relógio imediatamente). Parei para comemorar com um sanduíche de atum e queijo no pão de domingo.


Quando lembrei da data, a sensação de ansiedade sumiu e passei a pedalar mais solto, mais feliz, rindo sozinho dos meus 50 anos…

De repente, fiquei preocupado com a água. Eu tinha talvez um litro na mochila de hidratação e mais nada. Se precisasse acampar por qualquer razão, não teria suficiente para o jantar, ou o café da manhã, ou para o dia seguinte de pedal. Passou um carro e fiz sinal para que parassem. Era um casal de italianos que me disseram não tinham água nem para eles mesmos. Em seguida emparelhou comigo um caminhão alemão, estilo overland (veículos autossuficientes de viagem por terra). Eu pedalava na contramão porque ali a estrada estava mais limpa e consegui bom contato visual com o motorista.

“Alles Gut?”, ele me perguntou. “Brauchst Du was?”
“Alles in Ordnung, Alter. Aber Ich brauche ein Bischen Wasser, wenn Du hast…” respondi.

(Tudo bem? Você precisa de alguma coisa?)
(Tudo em ordem, véio. Mas preciso de um pouco d’água se você tiver…)

Ele parou imediatamente e todos os turistas, senhores e senhoras de cabelos brancos e aparência relaxada, de vida ganha, desceram com máquinas fotográficas. Eu me senti um superstar. Entre poses e risos, disse a todos em alemão que era meu aniversário, que completava 50 anos, da onde eu vinha e para onde ia, como me sentia… Acho que estava com tudo aquilo engasgado pela solidão.

Do nada apareceu um pedaço pequeno de bolo de chocolate em guardanapo do Patolino, um tufo de serpentina, uma diminuta vela de festa que ninguém conseguiu acender no vento patagônico e uma lata de Coca-Cola gelada. Todos cantaram Happy Birthday to You para mim. Em seguida foram embora e me deixaram na beira da estrada, com bolo em uma mão, refrigerante na outra, serpentina amarrada na bike e um sorriso do tamanho da Patagônia no rosto. Difícil imaginar uma festa surpresa melhor.
Acampei na Estancia La Siberia – um nome surreal para a região – numa área de churrasco. Um gambá preto e branco – desses de desenho animado – tentou roubar meu saco de lixo na varanda da barraca às duas da manhã. Derrubou meu fogareiro. Tomei um baita susto. Acendi a lanterna e saí aos pulos da barraca. Dei de cara com ele, ou ela, sei lá, a um metro e meio do meu nariz. Por sorte o bicho não se assustou e não borrifou fedor em mim ou no meu equipamento – teria sido desastroso.


Consegui pedalar 91 quilômetros sem maiores acontecimentos, nem para o bem nem para o mal. 

SEXTA-FEIRA, 16 DE NOVEMBRO 

Dia de sol!

Um dia sem grandes ocorrências. Tudo o que eu tinha de fazer era vencer os 94 quilômetros restantes de terra e cascalho até o asfalto da Ruta 40 e à vila de Tres Lagos – uma cidadezinha digna de filmes de faroeste.

Esse trecho da rodovia está em obras de asfaltamento e o trânsito de caminhões é intenso. Eu aproveitei todo trecho em obras que estivesse mais plano ou parcialmente asfaltado. Motoristas de tratores e escavadeiras acenavam risonhos.

Parei para almoçar num canteiro de obras. Caminhões, tratores, picapes, containers e um rapaz cortando lenha me receberam. Os demais trabalhadores estavam todos fora. Fui para dentro de um barraco de tábuas com um tambor enferrujado por fogão – a cozinha. Nas paredes externas havia lembranças de cardápios passados – uma caveira de bode, um casco de tatu, uma ave ainda com penas crucificada. Nas paredes internas havia vários sacos plásticos com condimentos e temperos. O barraco era imundo, mas algo me dizia que o rapaz era bom cozinheiro.


Passei uma hora descansando e esperando o sol baixar um pouco. Eu nunca tinha visto calor igual na Patagônia! Pareceia verão no Brasil… Comi e descansei à sombra de um container. Quando estava para partir, fui me despedir do cozinheiro, que me ofereceu um pedaço de carne escura, quase preta, retirada na ponta de uma faca de uma panela pesada de ferro com um litro de óleo fervente. Carne de guanaco caçado ali por perto.


Meu lema em viagem é… Uma vez no inferno, abrace o diabo!

Comi um pedaço e gostei. Sabor forte, carne magra, textura um pouco fibrosa.

Depois de seis horas e dezoito minutos de pedal, às 20:00, eu cheguei em Tres lagos e dormi no único camping, à beira de um riacho. Consegui acesso à internet e mandei um longo e-mail para a Adriana, minha mulher, explicando sobre o bike trailer e com instruções de como tentar resolver a situação.

SÁBADO, 17 DE NOVEMBRO 

Dia de luxo!

Minha intenção era fazer os 166 quilômetros de asfalto até El Calafate em dois dias, sendo o primeiro o mais longo que eu conseguisse, talvez 100 quilômetros ou mais, e o segundo o que sobrasse – lembrando que teria 32 quilômetros em direção oeste, diretamente contra o vento, ao lado do Lago Argentino (onde o vento corre solto).

Pedalei quase sem parar – apenas para fazer xixi, fotos e comer alguns amendoins – 58 quilômetros em três horas e meia com vento lateral, que não ajuda nem atrapalha o progresso, mas desequilibra um monte. Cheguei ao Parador La Leona, ao lado do Rio de la Leona. Foi nesse albergue centenário que supostamente ficou hospedado Butch Cassidy, Sundance Kid e outros bandidos ianques.


Desde que conheci esse lugar pela primeira vez, em 2009, sonhava em chegar até ele de bike. Para mim mountain bikers são cowboys modernos e eu me sinto um pouco Butch Cassidy… Meio fora-da-lei, explorador, aventureiro, instigador, mas sem ser criminoso. Cheguei às 14:30 varado de fome. Comi de tudo o que havia no balcão. Quando o restaurante esvaziou dos ônibus e turistas – que novamente me fotografaram como se eu fosse parte da decoração – conheci Don Carlos Kargaver, dono do estabelecimento e gaucho de cinema, literalmente. 

Empresário de Buenos Aires, ele compra e vende programas de TV pelo mundo, viaja bastante ao Brasil. Nos enganchamos em uma conversa franca e generosa e quando percebi, já era 17:00 e um poco tarde para recomeçar a pedalar. Na verdade acho que foi tudo planejado pelo meu inconsciente  Eu queria mesmo passar uma noite nos quartos originais, de paredes de adobe, onde supostamente dormiram os bandidos ianques… Só que hoje esses quartos têm banheiro privativo com ducha quente e colchões ortopédicos.

Don Carlos me convidou a ficar em sua estancia na minha volta do sul, se ele estiver por ali.


DOMINGO, 18 DE NOVEMBRO 

Dia de dor!



Com a parada não programada e precoce em La Leona, sobraram 108 quilômetros até El Calafate, com a certeza de forte vento contra nos 32 quilômetros finais. Eu não queria passar mais uma noite acampado e mais um dia pedalando. Minha comida havia praticamente terminado, restava apenas Miojo, sopa instantânea e amendoim.

Montei a velha estratégia de turnos de duas horas e mantive a concentração. No final do segundo turno eu tinha pedalado 60 quilômetros e estava na margem do Rio Santa Cruz – deságue do Lago Argentino e hidrovia usada por personagens históricos como Robert Fitz-Roy, Charles Darwin e Perito Moreno.


Seis quilômetro depois e menos de meia hora mais, eu chegava ao entroncamento da Ruta 40 com a Ruta 11, que chega a El Calafate. O vento me esperava como um bofete na cara!

Não vou me estender muito para falar sobre a dor e o sofrimento de fazer míseros 32 quilômetros em três horas, depois de já ter pedalado 76 quilômetros, no sétimo dia consecutivo de pedal pela Patagônia. Basta dizer que questionei inúmeras vezes a razão dessa viagem e ensaiei jogar a bike no acostamento e pedir uma carona…


Por sorte, ou azar, diferente do que aconteceu comigo por toda a Patagônia, nesse trecho ninguém dava a mínima para mim. Ninguém diminuía a velocidade e perguntava se eu estava bem, se precisava de algo, mesmo quando me via com o olhar perdido parado ao lado da bike no acostamento. Acho inclusive que se tivesse pedido carona não teria conseguido nada.

Cheguei a El Calafate às 20:30, depois de 108 quilômetros pedalados, em sete horas e meia, desde às 9:00 da manhã. Um dia de quase doze horas de bike… Vou sentir dor na bunda por bastante tempo.

E AGORA, MANÉ?


Fico em El Calafate uma semana. Domingo chega um amigo de São Paulo com um novo bike trailer para mim. Dessa vez vou de liga de ferro e estrutura tubular, hehehe… Vou descansar dois dias e talvez faça uma expediçãozinha exploratória pela região, só de bike, mochila e saco de bivaque…

Essa semana foi um divisor de águas na expedição. Primeiro, porque agora sou um respeitável senhor de 50 anos, segundo, porque fiz um dos piores trechos de bike e mantive tanto a dignidade quanto a sanidade. Começo a achar que vou completar esses seis meses de pedal com um sorriso no rosto – e todos os dentes na boca.


Aos interessados em conhecer mais sobre o projeto, leiam os posts anteriores no blog e visitem os links abaixo para mais informações sobre a EXPEDIÇÃO TRANSPATAGÔNIA


Link para a APRESENTAÇÃO
http://clubedaaventurakalapalo.blogspot.com.br/2012/07/transpatagonia-apresentacao.html

Link para o CHECKLIST DE EQUIPAMENTO
http://clubedaaventurakalapalo.blogspot.com.br/2012/09/expedicao-transpatagonia-equipamento.html 

Link para o CRONOGRAMA ESTIMADO
http://clubedaaventurakalapalo.blogspot.com.br/2012/09/cronograma-estimado-expedicao.html

10 respostas para “EXPEDIÇÃO TRANSPATAGÔNIA / EL CALAFATE, ARGENTINA”

  1. Anonymous disse:

    seguimos com o coração na mão!!!!!!! abração. Fá

  2. Rodolpho disse:

    Guilherme, parabéns. Do fundo do coração, PA-RA-BÉNS!

    Que venham os próximos cinquenta!

    Sigo no mesmo caminho, vai demorar um pouco ainda, mas teu bom humor (sarcástico, até, como lá no final aprendi a respeitar e até gostar), tua perseverança e humildade servem de inspiração pra quem trilha essa viagem chamada vida.

    Vamo lá! Quando terminar vamos beber uma bela Ale gelada e vermelha!

  3. Carol Emboava disse:

    Guilherme, seus relatos são ricos e inspiradores! A “festa surpresa” foi o melhor hein, hehe!
    E que bom que conseguiu resolver a parada do bike trailer, fiquei na torcida qdo vi o post no facebook!
    Bons ventos por aí! 🙂

  4. Dhanapala disse:

    Olha, não vou falar nada, porque também fiquei com o coração na mao. Estou interrompendo meu retiro aqui em Garopaba só pra dizer que acabei de ler esse post dos 50, te seguindo e sentido as dores e alegrias do caminho. Obrigado pela inspiração! E Keep Walking!

  5. NAN disse:

    Continuamos aqui acompanhando, torcendo e nos divertindo muito com seus relatos.
    Parabéns pelos 50 anos, cada dia mais vivo.

  6. Grandes relatos de uma grande aventura. Parabéns pelo seu aniversário e boa sorte na continuação!

  7. Unknown disse:

    Gui, parabéns pelo projeto, pela execução e pela narrativa dessa expedição. Não tenho dúvida que você vai concluir com sucesso. Agora no feriado de 15/11 lembrei de voce pois na entrada do lado argentino do Parque das Cataratas do Iguaçu, vi uma bicicleta tandem com uma carretinha parecida com a tua. e no fim do dia vi um casal pedalando já de volta a Puerto Iguassu. ô inveja.

  8. Unknown disse:

    Gui,

    Indiquei teu blog a todos os meus amigos de pedal.

    Contei que você é meu amigo há quase 40 anos, que já viajamos, jogamos, mergulhamos, acampamos, passamos carnavais juntos, dentre outras maluquices.

    Quando tinhamos uns 16/17 anos vc ganhou do teu primo Ricardo (acho que foi dele) uma bicicleta de 10 marchas (tipo Caloi 10), mas como estava toda desmontada, eu o ajudei a montar. Depois fomos experimentar e estavamos descendo a ladeira da Rua Padre João Manuel em São Paulo, da Paulista para a Rua Estados Unidos, e só lembro, de, de repente, vê-lo travando a roda traseira, fazendo um zigue-zague para tentar, sem sucesso, controlar a bicicleta, foi um tombo bonito de se ver. Graças a Deus, apenas uns arranhões, pois nem estávamos de capacete.

    Contei que voce morou nos Estados Unidos, Alemanha, Israel, e outros, que já foi escritor de programas humorísticos, guia, limpador de chaminés, colheu laranjas em um Kibutz em Israel, e outras profissões, mas hoje tem uma empresa de esportes de aventura e escreve guias.

    Contei ainda que atualmente está fazendo uma expedição de 6 meses de Bicicleta para mapear de Bariloche até o sul da patagônia, passando por todos os cruces entre Chile e Argentina. e está previsto uns 5.000km e já rodou uns 1.500km.

    Finalizando, disse que vale a pena ver teu blog , pois dá uma grande inveja as loucuras e a vida completamente diferente que você leva.

    Parabéns pelos 50 anos.

  9. Anonymous disse:

    Gui parabéns pelas conquistas. Tanto pelo aniversario como pela saga que ta sendo esta trilha. Vai na fe.ta sendo muito bacana acompanhar tudo… Fico imaginando as paisagens…a trilha..os perrenhos.. Um abraço. Vitor

  10. Parabéns pela data, sensacional o relato do seu aniversário, coisas mágicas acontecem quando estamos em sintonia com a natureza, e a Patagônia é mágica. Boa sorte em sua aventura, muitas felicidades.

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