2008, dezembro – revista GO OUTSIDE 43

1 de dezembro de 2008

Radar – Próxima Parada

O Pico da Bandeira (na divisa do Espírito Santo com Minas Gerais) não combina muito com MTB – a não ser que você goste de carregá-la morro acima. Mas a região é rica em trilhas e o ercurso de 152 quilômetros de extensão (feitos em dois a quatro dias) até a serra do Caparaó é um roteiro tradicional dos bikers capixabas. (GUILHERME CAVALLARI)

Levanta a bandeira

Nos idos de 1859, D. Pedro II mandou erguer a bandeira do império no ponto mais alto do Brasil. Na época, isso era o topo da Serra do Caparaó, divisa entre os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Mas depois de um século, a fila andou e hoje o Pico da Bandeira, como ficou conhecido o cume, com exatos 2.891,98 (segundo medição revista pelo IBGE em 2004), é a terceira montanha mais alta brasileira, atrás do Pico da Neblina e do Pico 31 de março.
Apesar da altura dos picos da Serra do Caparaó, a extensão da serra não é grande e dar a volta de mountain bike nela não exige escalar nenhuma montanha. As maiores subidas não têm grande inclinação e são o que a população local chama de “lançada”. Mas não vá esperando moleza, porque de lançada em lançada você termina o dia parecendo o São Sebastião.
A região é repleta de cafezais, militarmente enfileirados nos morros, em contraste com a confusão verde da mata atlântica preservada do Parque Nacional da Serra do Caparaó. Não faltam vilas rurais e igrejinhas perdidas no nada. A população é hospitaleira e tem até uma comunidade do Santo Daime no meio do caminho. Café ou chá? Tem de tudo nesse pedal.

1° DIA: Alto Caparaó a Patrimônio da Penha

O ponto de partida é a cidade mineira de Alto Caparaó, uma das duas portas de entrada para o parque e subida ao Pico da Bandeira. Boas pousadas, restaurantes, comércio, artesanato e uma vista para as montanhas rochosas e dentadas que não tem preço! Vale comer uma truta fresca, criada no pedaço, para energizar as pernas para o primeiro trecho da aventura.
De cara são quatro quilômetros de serra, não muito íngreme, “lançada”, para depois despencar 22 quilômetros. Verifique os freios, você vai precisar. Aí vem um trecho de asfalto, pelo acostamento da tranqüila BR 262, de novo uma “lançada” que não parece ter fim, sete quilômetros de subida. Terminado o asfalto começa uma fila de vilarejos rurais, fazendas, plantações e igrejinhas. Não faltam pontos de parada para lanche, reidratação, descanso e até um pouso de emergência. O destino é a vila de Patrimônio da Penha, onde existe uma comunidade do Santo Daime instalada há quase vinte anos.
Um dos lugares mais bonitos e gostosos de pedalar nesse dia fica entre Pedra Roxa e Patrimônio da Penha, na baixada do Limo Verde. Terreno plano, pastos verdejantes no pé da serra imponente e, no meu caso específico, chuva na cabeça. Dos 73 quilômetros totais do dia pelo menos 50 foram debaixo de água. E barro! Mas acho que todo mountain biker de verdade tem um gene suíno no DNA… Lama deixa a gente rindo à toa.

2° DIA: Patrimônio da Penha a Dores do Rio Preto

Trecho curto, plano, de apenas 26 quilômetros ligando a vila de Patrimônio da Penha à cidadezinha de Dores do Rio Preto. Duas capelinhas isoladas no meio dos cafezais marcam a religiosidade local, que não passa despercebida também em Dores graças ao gongo da igreja matriz, desafinado e quatorze minutos atrasado, batendo de meia em meia hora. A cidade tem rodoviária e também pode ser usada como ponto de início e fim do pedal.

3° DIA: Dores do Rio Preto a Pedra Menina

Destino Pedra Menina, bairro rural de Dores do Rio Preto, uma vilazinha simpática no pé de uma enorme formação rochosa com jeito de chapéu de duas pontas. Como um farol no horizonte, pedalamos o tempo todo apontando para a tal pedra. Um trecho de 24 quilômetros com uma “lançada” de quatro quilômetros no início, só para não perder o costume. Apesar de bem menor que Dores, Pedra Menina tem mais opções de pousada e a culinária caseira inclui um docinho de amendoim, tipo beijinho, que é turbina nas pernas! Acho que se fizerem teste antidoping dá positivo! Quem for para lá traz um quilo para mim, por favor…
Pedra Menina tem a segunda portaria de entrada para o Parque Nacional e acesso ao Pico da Bandeira. Por aqui a subida ao cume é mais íngreme e mais longa.

4° DIA: Pedra Menina a Alto Caparaó

Dia também curto, de 28 quilômetros, mas os dez últimos quilômetros são “lançados”. Dá-lhe São Sebastião! Mas é só lembrar a truta fresca, o visual das montanhas da pracinha da igreja matriz de Alto Caparaó e mandar mais um pedacinho de doce de amendoim prá dentro que tudo vai bem. Esse é um dos dias mais bonitos. Pedalamos por dentro de um longo vale ao longo da parte mais acentuada, mais íngreme, da Serra do Caparaó e a sensação de missão cumprida mista com saudades dá energia e vontade de começar de novo. Pelo menos para mim é assim. No último dia de cada viagem de bike eu faço os planos para a próxima viagem.
Uma vez em Alto Caparaó, quem tiver tempo termina a aventura com a “cereja em cima do bolo” e sobe ao Pico da Bandeira. Quatro horas de caminhada morro acima, a partir da portaria, terminam ao pé do Cristo Redentor e garantem mais um carimbo no passaporte de aventureiro.

ANOTA AÍ

A portaria do Parque Nacional da Serra do Caparaó funciona das 6:30 às 22:00. É cobrado ingresso de entrada (R$ 5,00).

Todo ano desde 1994, rola em julho o evento não competitivo Eco Bike, organizado pela ONG Amar Caparaó, mais informações: www.portalcaparao.com.br

O Volume 8 da coleção Guia de Trilhas enCICLOpédia, de Guilherme Cavallari, trará em janeiro esse roteiro minuciosamente mapeado, com planilhas.

Mais informações: www.kalapalo.com.br

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