NO MATO COM CACHORRO

7 de outubro de 2013

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Há exatamente uma semana hoje, me mudei de São Paulo para o interior, para as montanhas, para Minas Gerais. Fui de mala e cuia, com se dizia antigamente. Na mudança, não me lembro de mala alguma, mas muitas mochilas. E cuias, só havia as cumbucas de granola matinal, se é que se encaixam na categoria. Fomos eu, minha esposa Adriana, meu trabalho, minhas tralhas e nosso cachorro – Bella, uma Golden Retrievier mais urbana que orelhão depredado.

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Aos cinquenta anos de idade, depois de meio século vivendo em cidades grandes, essa mudança tinha tudo para ser drástica, dramática e radical. Mas não foi. Na verdade foi bem natural. Quase “coisa do destino”, como diriam os místicos e ocultistas de plantão.

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Do momento em que decidimos sair da metrópole até o dia de efetivamente lotar o carro e pegar a estrada, com mesas amarradas no teto, caixas de papelão empilhadas tapando a visão do espelho retrovisor e a Bella espremida em um espaço exato para ela se deitar com o rabo encolhido, foram dois meses intensos, exaustivos e de muitas coincidências – ou sincronicidade.

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Encontramos um grupo de jovens que se apaixonaram por nossa casa na cidade e nós nos apaixonamos por uma casa em uma fazenda. Eles investiam em um trabalho relacionado com música e nós incluíamos mais silêncio na nossa vida. As duas casas trocaram de mãos, dedos trêmulos de expectativas e história. Mas bastou eu entrar na casa nova para me sentir como se tivesse nascido nela. Não me lembro de ter visto a Adriana mais feliz.

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Nessa semana de casa nova, montei quatro beliches, organizei o estoque de mais de cinco toneladas de livros da minha editora, desempacotei centenas de livros pessoais da minha biblioteca, mudei tomadas elétricas e interruptores, fixei estantes e prateleiras, desentupi pias e privadas, consertei armários e cadeiras, martelei o dedão da mão esquerda e caiu um banco de madeira na minha cabeça deixando um galo do tamanho de um ovo de codorna.

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Aliás, falando de galos e codornas, o antigo morador da casa na fazenda criava codornas e preciso desmontar o viveiro, acordo todas as manhãs com um galo de verdade cantando e vi um bezerro recém nascido buscar desesperado a teta da sua mãe sobre pernas incertas. Típica vida de fazenda. Estamos a doze quilômetros em terra da cidade mineira de Gonçalves e doze quilômetros, metade em terra, metade em asfalto, da cidade paulista de São Bento do Sapucaí. Vivemos agora em uma casa amarela no topo de um morro, na Fazenda Campestre. Para nos visitar é só bater na porta com uma mariposa gigante pousada, se ela ainda estiver lá.

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Nossa casa está aberta a todos. Temos oito camas para hóspedes, uma grande mesa de jantar que promete ser farta, uma sala de estar aconchegante cercada de janelas com vista para bosques de araucárias, banho quente de aquecedor a gás, horta ao lado da porta da cozinha, lareira e trilhas, muitas trilhas. A proposta é recebermos muitas visitas, que contribuirão com sua energia e apoio para que a vida no campo se torne autossustentável.

Nosso novo endereço é um refúgio de montanha e um campo escola de aventura, onde serão ministrados nossos cursos de atividades de contato com a natureza, como trekking e mountain bike. Acolhemos com simplicidade e dividimos nosso espaço com quem tiver interesse em dividir espaço conosco. Já descobri meia dúzia de trilha para apresentar aos visitantes. E no momento só temos duas regras: tirar os sapatos dentro de casa e oferecer uma cerveja gelada a quem chegar de bicicleta.

O convite está feito.

Mais informações: https://www.kalapalo.com.br/index.php/refugio-kalapalo-goncalves-mg/

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