MAPEAMENTO CARRETERA AUSTRAL 17

4 de janeiro de 2010

Cochrane, Chile

31 de dezembro de 2009 / 33° dia de viagem

A Reserva Nacional Tamango tem uma pequena e interessante rede de trilhas. 34 quilômetros ao todo. O único problema que encontrei (fora aqueles fatores que fazem parte de qualquer trabalho de mapeamento e trekking) foi conseguir desenhar um circuito que visitasse todos os principais pontos de interesse sem passar duas vezes pelo mesmo lugar.

Começamos a caminhar depois das 13:00 no dia 29 de dezembro. Fomos até um lugar chamado Playa Palena, onde há algumas cabanas de aluguel. É possível chegar a esse ponto também de barco a motor em uma viagem de aproximadamente 40 minutos pelo Rio Cochrane e o Lago Cochrane. Acampamos e no dia seguinte voltamos por outro caminho, por uma trilha chamada de Sendero de los Huemules, devido à grande concentração desses cervos em risco de extinção. Quase no final da caminhada não ficamos decepcionados, demos de cara com um jovem macho pastando a dez metros de nós. Consegui me aproximar ainda mais, fiz várias fotos. Valeu o dia e a visita à reserva.

De volta à entrada da reserva, decidi fazer no dia seguinte uma volta de mais de 20 quilômetros em um dia, sozinho. A Adri estava cansada e a perspectiva do trekking era dura demais. Essa volta é feita normalmente em três dias. A primeira parte do percurso fiz de barco a motor, acompanhando o guarda-parque que precisava levar uma placa de madeira indicativa de um entroncamento de trilhas. Os demais 20 e poucos quilômetros fiz sozinho.

Foi um dia longo, exaustivo e recompensador. Choveu, ventou forte, fez frio, sol, vi mais huemules e pegadas de puma. Quase fui comido vivo por pernilongos em uma área de charco sem fim, onde eu caminhei com os pés molhados todo o tempo. Me perdi diversas vezes, o que quer dizer que a toda dúvida eu precisava desligar o GPS e achar o caminho certo antes de voltar a ligá-lo. Muitas idas e voltas.

Essa região da reserva fica entre os picos mais altos da região – Cerro Tamango e Cerro Tamanguito – que são perfeitamente possíveis de subir caminhando, mas como a primavera foi muito fria ainda havia muita neve nos topos dessas montanhas. Suas bases são cobertas de vastos bosques fechados onde vivem famílias inteiras de pumas. Confesso que me deu um pouco de apreensão passar completamente só o dia inteiro em um lugar tão selvagem. A trilha estava muito mal sinalizada, também devido ao longo inverno e primavera inclemente. A administração da reserva não teve tempo ainda de fazer a reconstituição dos caminhos, que ficam abandonados nove meses por ano e sofrem todo tipo de impacto natural como neve, chuva, deslizamentos, avalanches, inundações e afins.

Tentei parar o mínimo possível. Comecei a caminhar às 10:30 e parei 15 minutos às 13:00 e mais 15 minutos às 17:00 e cheguei de volta ao acampamento para encontrar a Adri me esperando dentro do carro às 21:30. Na segunda hora de caminhada encontrei com um casal de suíços que conheci em Coyhaique fazendo a Carretera Austral de bicicleta – Thomas e Janine. Eles não conheciam a Reserva Nacional Tamango e nós demos a eles um mapa gratuito que havíamos pegado no centro de informações turísticas da cidade. Nos reencontramos depois disso diversas vezes pelo caminho (uma vez no meio da estrada, onde eles haviam montado acampamento ao lado da Carretera perto de um rio, e outra em Rio Tranquilo no posto de gasolina). Foi reconfortante encontrar alguém na trilha, especialmente vindo na direção oposta, isso significava que o caminho era possível. Mas mesmo assim me perdi algumas vezes. Eles também.

Quando cheguei no carro a Adri já havia alugado um confortável cabana à beira do Rio Cochrane e preparado um maravilhoso risotto ao forno para nossa ceia de Ano Novo. Eu estava esgotado e saber que tomaria um banho quente, saborearia um delicioso jantar regado a excelente vinho chileno, com lareira e a mulher que eu amo trouxe lágrimas aos meus olhos. Quem pode desejar um réveillon melhor?

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