BIKEPACKING: ACAMPAMENTO ULTRALEVE

23 de março de 2017

Na década de 1930 os escaladores ingleses Eric Shipton e Bill Tilman revolucionaram o montanhismo com sua abordagem mais simples e autossuficiente de aproximação e ataque a grandes cumes. Go lighter, go faster — “Vá mais leve, vá mais loge” — virou o lema da dupla, que abriu caminho para a conquista do Monte Everest, em 1953.

De lá pra cá, o objetivo de diminuir peso e volume do equipamento de aventura nunca parou. Nos últimos 10 anos, muita coisa mudou com a chegada ao mercado outdoor de pequenas fábricas de fundo de quintal com ideias e produtos criativos. O canal de comunicação e comercialização direto com o consumidor, introduzido pela internet, foi a principal responsável por isso. Alguém com uma boa ideia e alguma habilidade consegue, do dia para a noite, revolucionar nossa maneira de enxergar uma barraca, uma mochila ou um saco de dormir. Esse é o tema desse artigo.

Acampar, por exemplo, já não é mais sinônimo de “dormir em barraca”.

A marca de produtos outdoor australiana Sea To Summit lançou uma linha completa de produtos pensados para trekking ultraleve e consequentemente para bikepacking. Equipamento extremamente leve, compacto, simples, versátil e eficiente. E o melhor de tudo é que os produtos estarão disponíveis no Brasil! Mais informações, visitem e entrem em contato com o pessoal do Sea To Summit Brasil, pode ser que os produtos ainda não estejam disponíveis lá, mas eles podem esclarecer quaisquer dúvidas.

O FUNERAL DO SACO DE DORMIR

Ao deitar num saco de dormir, o usuário esmaga com o peso do corpo o enchimento localizado na parte das costas do equipamento. O resultado é que o enchimento esmagado deixa de fazer isolamento térmico por não conter mais o ar que havia ao seu redor. Em outras palavras: a parte de baixo do saco de dormir não serve pra nada!

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Pensando nisso algum gênio aventureiro decidiu passar a tesoura nas costas de um saco de dormir, fechar o corte e pronto! Foi inventado o “Quilt de Dormir” — Sleeping Quilt, em inglês, sendo que quilt é sinônimo de edredom nos Estados Unidos. Ainda com a tesoura nas mãos, nosso gênio cortou também o capuz e o zíper. As justificativas foram lógicas: um simples gorro cumpre o papel do enorme e pesado capuz e um minúsculo sistema de fitas é infinitamente mais leve do que um grande zíper, cumprindo o mesmo papel. Com isso, o quilt ficou 30% mais leve e mais compacto que o saco de dormir, sem perder o mínimo da eficiência. Na verdade, houve um ganho de eficiência! Porque o quilt é bem mais versátil, permite o uso do equipamento como uma manta, permite que o usuário coloque braços e pernas para fora se sentir calor. Ou seja, o quilt tem maior amplitude térmica que um saco de dormir convencional, podendo ser usado em temperaturas mais elevadas sem tanto desconforto. Eu venho usando quilts desde 2014. Usei na TRANSPATAGÔNIA, na CAPE WRATH TRAIL, na expedição de TANDEM NAS HIGHLANDS da Escócia e em inúmeras aventura pela Serra da Mantiqueira, onde vivo. Eu recomendo!

UM ISOLANTE DE FÔLEGO

Os isolantes térmicos também não param de diminuir de peso e de volume. Num movimento de simplificação, os mais leves e compactos deixaram de ser auto-infláveis (na verdade voltaram a não ser auto-infláveis porque os primeiros também não eram) e perderam muitas gramas na balança. Acontece que para ser auto-inflável o isolante térmico tem que ter uma espécie de “colmeia de abelha” de espuma por dentro. Essa espuma mantém a estrutura do isolante com “as células abertas” e ele “infla” sozinho. Na verdade, a estrutura retorna a seu estado natural quando em descanso. Por isso, isolantes auto-infláveis não podem ser armazenados por muito tempo fechados e comprimidos. As células “perdem a memória” e permanecerão fechadas mesmo quando livres da compressão. A nova geração de isolantes térmicos pesa a metade dos isolantes convencionais, que têm a tal “espuminha interna”, e outra grande vantagem dessa nova geração é que eles podem ser armazenados completamente fechados e compridos sem nenhum problema.

SISTEMA DE DORMIR, SISTEMA DE SONHAR

Entre os aficionados por equipamento de aventura, a união do quilt com o isolante térmico ganhou o apelido de “sistema de dormir”. O quilt possui fitas ao longo de seu comprimento que “abraçam” o isolante térmico criando um “casulo” para o usuário. Isso elimina frestas por onde o calor do corpo poderia escapar, além de permitir que o usuário vire de um lado para o outro sem “descobrir a bunda”. Engenhoso e simples, além de muito mais leve que um grande zíper. E se a temperatura subir demais, basta soltar as fitas e usar o quilt como manta.

O RÉQUIEM DA BARRACA

Mesmo com o surgimento de barracas ultraleves e supercompactas — com tecidos minimalistas de nylon ultrasil ou cuben fiber (também conhecido como Dyneema), poucas varetas finas de alumínio e estacas de titânio — não existe proteção melhor contra as intempéries do que um simples retângulo de material impermeável esticado sobre nossas cabeças. Quem não acredita no que estou dizendo, pergunte a qualquer pescador! É quase impossível encontrar um pescador no Brasil que não use uma lona plástica como teto para seu acampamento. Se o produto não funcionasse, não seria tão popular.

O mesmo conceito, aplicado a acampamento ultraleve ganhou o nome de “toldo”, ou ainda tarp, para quem quiser usar o termo em inglês. O complemento perfeito para um toldo é um footprint ou groundsheet, que nada mais é do que um “contrapiso” que vai proteger o chão da barraca, o isolante térmico e o quilt contra possíveis perfurações por espinhos, gravetos e pedrinhas. Um toldo e um contrapiso substituem com perfeição qualquer barraca em quase todas as situações. Chuva? O toldo segura. Vento? O toldo, quando armado baixo, também segura. Frio? Quem esquenta é o quilt e não a barraca ou o toldo. O único problema que o toldo não resolve é a invasão de insetos, mas pra isso basta um mosquiteiro ou um saco de bivaque — que é uma espécie de saco de dormir impermeável, respirável e à prova de vento.

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CHECKLIST DE CAMPEÃO

Minha sugestão de checklist para uma acampamento ultraleve em bikepacking (ou em trekking ultraleve), com os melhores produtos (links nos nomes em azul) já disponíveis no Brasil ou que estarão no mercado em breve (para informações de disponibilidade, entrar em contato com [email protected]), se resume a:

  • Quilt EB II da marca Sea To Summit (abrangência térmica de conforto entre -2°C e 8°C e temperatura limite em torno de -10°C, podendo ainda ser usado também em temperaturas próximas a 20°C como manta. Peso de 560 g no tamanho médio e 718 g no tamanho grande. Volume de apenas 2,5 litros quando comprimido)
  • Ultralight Insulated Sleeping Mat da marca Sea To Summit (isolante térmico não auto-inflável de 1,68 x 0,55 m e 430 g no tamanho pequeno, 1,83 x 0,55 e 480 g no tamanho médio e 1,98 x 0,64 m e 595 g no tamanho grande. Existe ainda uma versão não insulated que diminui o peso e o volume do produto em cerca de 15%)
  • Tarp Escapist da marca Sea To Summit (toldo de 2 s 2,6 m e 257 g no tamanho médio e 3 x 3 m e 402 g no tamanho grande, feito de nylon ultrasil. O toldo vem com 8 linhas de extensão e é preciso um kit de pelo menos 8 estacas para esticar e montar o equipamento)
  • Groundsheet Escapist da marca Sea To Summit (contrapiso feito de Tyvek da marca Dupont, que tem aparência de papel mas não é papel, é impermeável, resistente a fogo, bastante resistente a abrasão e perfurações, muito leve e compacto. Tamanho único de 2,2 x 1,2 m e 165 g. O equipamento vem com alçar nos quatro cantos para esticar e fixar com estacas no solo, além de barra em tecido sintético em todo o entorno para aumentar a durabilidade)
  • Ultra-Mesh Bug Tent Escapist da marca Sea To Summit (PRODUTO QUE CONSIDERO OPCIONAL, já que o saco de bivaque cumpre o papel de proteção contra insetos também, além de ser impermeável e respirável. Esse mosquiteiro com piso de barraca em nysol ultrasil e porta com zíper tem 2,2 x 1,2 m área de piso, 1 m de altura e pesa 385 g. O espaço acolhe duas pessoas apertadinhas)
  • Ground Control Tent Pegs da marca Sea To Summit (estacas de fixação em alumínio anodizado com laços de cordinha refletiva e peso individual de 14 g)
  • Assault Bivy Bag da marca The North Face (saco de bivaque impermeável e respirável. Pesa apenas 420 g e substitui um barraca para uma pessoa. Se usado junto com o toldo e o contrapiso garante todo o conforto e segurança de uma barraca, sendo muito mais leve, compacto e versátil)

 

Uma resposta para “BIKEPACKING: ACAMPAMENTO ULTRALEVE”

  1. Jose Antonio Seng disse:

    Utilizo quase a mesma coisa que vc. Mas adquiri a tempos, um abrigo da S2S – Specialist Duo Shelter (633g), que cumpre bem a função do toldo e da proteção para mosquitos. E o groundsheet (135g). Também utilizo um isolante da mesma marca, light (395g). Adiciono a isso um liner (term a rest) se for uma região quente. Ou um spark II (490g). Tudo muito compacto e leve. Junto com uma mochila salomon peak (500g), meu “big four” fica com 2253g ! Alem de bem compacto.

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