A ONDA

29 de setembro de 2009

Quando eu vivia na Alemanha e trabalhava como bike courier em Berlim, em 93 e 94, passei um Natal com a família de minha namorada alemã. Depois da ceia, quando a geração de jovens da família digeria o banquete, fumando cigarros e bebendo vinho, todos refestalados em sofás, poltronas e almofadas jogadas no chão, desfrutando do calor de uma lareira em chamas e do conforto do Primeiro Mundo, um assunto delicado veio à tona… Alguém havia encontrado cartas e fotos do avô, já falecido, em um velho baú no sótão, manifestando grande orgulho por ser nazista.

Achei estranho o constrangimento geral, os sussurros e sorrisos amarelos. Alguém contou que a avó, viúva do indiscreto, havia tentado se explicar e justificar e diminuir a questão sem muito sucesso. Não entendi tanto embaraço e falei o que pensava, disse que “todo mundo naquela época era nazista na Alemanha”, de um jeito ou de outro. Senti que o constrangimento geral só aumentou com meu comentário pouco sutil. Pode até ser verdade que todos fossem menos ou mais nazistas, mas isso não é coisa que se diga assim, no Natal, com o bucho cheio de peru…

Não me lembro bem dos detalhes do caso, mas acho que o tal avô era membro da SS ou coisa parecida. Seu envolvimento com o nazismo era maior do que o da maioria dos cidadãos de então. Ou isso, ou alguém tentava tapar o sol com uma peneira.

Essa história me voltou à memória depois que assisti ao excelente filme A ONDA (DIE WELLE), longa-metragem alemão do diretor Dennis Galsen, também alemão, que trata de um tema que nenhuma outra nação consegue abordar com tanta profundidade e sutileza, tanta dor e vergonha, tanta autoridade e consciência, quanto a alemã. Afinal de contas, os alemães não foram apenas os pais do nazismo, mas também foram encarregados de enterrá-lo ainda vivo.

Mas o filme não trata diretamente do nazismo, pelo menos não enquanto fenômeno da História, algo do passado, dissecado, seco e mumificado. O filme nem sequer acontece nas décadas de 30 e 40. É atual e a imensa maioria dos personagens é adolescente, veste jeans, anda de skate, ouve rap em I-Pods, navega na internet em celulares e curte uma rave.

O enredo é baseado em uma história verídica ocorrida na Califórnia em 67, romantizada e exagerada no filme, mas perfeitamente cabível e passível de acontecer ainda hoje aqui no Brasil ou em qualquer lugar mais civilizado do mundo.

Um professor do ensino secundário decide fazer uma experiência com seus alunos para exemplicar de forma vivencial “o poder de mobilização de regimos autoritários”. Suas aulas são boas demais e o resultado foge do controle. Mas o filme tinha de ser alemão, tinha de se passar na Alemanha, para que o impacto fosse o maior possível, afinal, espera-se que “o raio não caia duas vezes no mesmo lugar”.

O que mais me impressionou no filme, no entanto, é que a forma como o autoritarismo é exibido, sob a máscara histórica do nazismo mas sintonizada com o mundo atual e vestido na última moda do liberalismo, deixou tudo muito parecido com aglomerações populares pseudo-organizadas muito corriqueiras em nosso cotidiano… Torcidas organizadas de futebol e certas facções religiosas evangélicas, muçulmanas e judaicas que grassam livres em nosso meio.

A lição aprendida com o filme é clara: o autoritarismo – com seus elementos de massificação, de união dos indivíduos em torno de um ideal maior, de unificação de linguagem, de dissolução da individualidade, de intransigência, de negação absoluta e dogmática das divergências – está tão vivo hoje quanto estava na Alemanha na década de 30.

Cuidado com suas crenças, ideais, dogmas, bandeiras e hinos! Tudo o que simplifica a vida, nega a realidade! Se a pílula ameniza a dor, também entorpece os sentidos…

8 respostas para “A ONDA”

  1. Anonymous disse:

    d+ cara

  2. marcus disse:

    O que vc acha da cena final, quando o professor faz uma cara de espanto e a imagem congela? O que ele enxergou, compreendeu, sei lá…

  3. Habacuque disse:

    Eu também queria saber o que ele pensou ou enxergou naquela cena! Fiquei um tempão pensando naquilo! Alguém tem ideia do que seja?

  4. Anonymous disse:

    Gostei muito da resenha sobre o filme, a partir da leitura da mesma poderei fazer a minha, para um trabalho da faculdade….Psicologia Social…..

  5. Anonymous disse:

    nakela sena final em q o professor esta no carro e faz uma cara d espanto eu pensei q ele tivesse visto uma pixação da onda pela cidade.

    mas entaum o filme acabo, axo q nao era isso nao!

  6. Kamila disse:

    Penso na sequência da vida do professor.A esposa fica ao lado dele depois do ocorrido?Ele foi condenado sozinho?Ninguém mais?Só ele pagou o pato?Será que as pessoas realmente desistiram da ‘A onda’ ou tiveram o pensamento de que ‘os fins justificam os meios’? Afinal, em muitas ideologias prega-se que uma baixa não é algo tão importante se houver um bem maior por trás.
    Não sei…
    Acho que o professor viu absolutamente nada.Ficou absorto.Alguém morrendo diante de você é algo atordoante.Já passei por isso. Imagine quando se sente que o culpado foi você mesmo?!
    Tenho pena dele.

  7. Anonymous disse:

    valeu me ajudou muito lek!!
    trabalho de hist..

  8. Anonymous disse:

    ao contrario, quando o professor levantou os olhos e depois arregalou,deveria de ter no minimo uma multidão de camisas brancas parada evitando o proceguimento do carro da polícia.Vejam- primeiro saiu na primeira folha do jornal, lembran-se! E depois o comentário na aula ” a onda ja se espalhou”.

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Anonymous
ao contrario, quando o professor levantou os olhos e depois arregalou,deveria de ter no minimo uma multidão de camisas brancas parada evitando o proceguimento do carro da polícia.Vejam- primeiro saiu na primeira folha do jornal, lembran-se! E depois o comentário na aula " a onda ja se espalhou".Anonymous
valeu me ajudou muito lek!!
trabalho de hist..Kamila
Penso na sequência da vida do professor.A esposa fica ao lado dele depois do ocorrido?Ele foi condenado sozinho?Ninguém mais?Só ele pagou o pato?Será que as pessoas realmente desistiram da 'A onda' ou tiveram o pensamento de que 'os fins justificam os meios'? Afinal, em muitas ideologias prega-se que uma baixa não é algo tão importante se houver um bem maior por trás.
Não sei...
Acho que o professor viu absolutamente nada.Ficou absorto.Alguém morrendo diante de você é algo atordoante.Já passei por isso. Imagine quando se sente que o culpado foi você mesmo?!
Tenho pena dele.Anonymous
nakela sena final em q o professor esta no carro e faz uma cara d espanto eu pensei q ele tivesse visto uma pixação da onda pela cidade.


mas entaum o filme acabo, axo q nao era isso nao!Anonymous
Gostei muito da resenha sobre o filme, a partir da leitura da mesma poderei fazer a minha, para um trabalho da faculdade....Psicologia Social.....Habacuque
Eu também queria saber o que ele pensou ou enxergou naquela cena! Fiquei um tempão pensando naquilo! Alguém tem ideia do que seja?marcus
O que vc acha da cena final, quando o professor faz uma cara de espanto e a imagem congela? O que ele enxergou, compreendeu, sei lá...Anonymous
d+ cara

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