DEFINIÇÃO DE “AVENTURA”

5 de agosto de 2009

O que é “aventura”?

De tempos em tempos essa pergunta me incomoda. Já incomodou muito mais no passado, quando era apenas uma questão teórica. Hoje, como vivo exclusivamente do trabalho na minha editora especializada em “aventura” (seja lá o que isso for), essa questão passou a incomodar menos… Faz sentido, afinal o que antes era idéia e sonho, hoje é rotina de trabalho, dia a dia, estilo de vida – e isso, por si só, já é uma definição.

Sou autor de treze livros, todos relacionados ao que considero “aventura”. Nove desses livros trazem roteiros para prática de mountain bike, outros dois trazem roteiros de trekking, um tem roteiros de off road, trekking e mountain bike e outro tem informações sobre conceitos, técnicas e equipamento para uso em atividades de aventura. Para 2011 estou preparando mais dois livros…

Uma característica do meu trabalho é que preciso estar em boa forma física para as fases de mapeamento de roteiros. Tenho que estar pronto para pedalar 400 km de mountain bike em uma semana ou caminhar 120 km em dez dias com mochila de 30 kg nas costas, conforme o caso. Para isso preciso treinar regularmente, comer bem, dormir bem, estar saudável. Todos os dias faço alguma atividade física.

Meu trabalho me obrigou a aprender a ler mapas, cartas topográficas e cartas náuticas. Aprendi a usar bússola e altímetro. Estudei meteorologia básica. Fui obrigado também a dominar a tecnologia do GPS. Tive que aprender um monte sobre mochilas, calçados técnicos, roupas tecnológicas, barracas, fogareiros, tipos de combustível, cordas, alimentação, hidratação, tratamento de água, mínimo impacto ambiental, primeiros socorros, técnicas de resgate e mais um monte de coisas aparentemente mais relacionadas a serviço social no Iraque do que a trabalho editorial no Brasil. Também uso regularmente meus conhecimentos de outras línguas para ler, escrever, falar e entender gringos que dominam alguma informação melhor que eu.

Viajo com regularidade – mas sempre muito menos do que gostaria. Nem sempre sei onde vou dormir nem como. Costumo dizer que “eu ralo antes para você (leitor) desfrutar depois”. Isso que dizer que me perco propositadamente pesquisando caminhos alternativos, chego a lugares com pouca ou nenhuma estrutura de hospedagem e alimentação para analisar se vale incluí-los nos livros, faço e refaço às vezes no mesmo dia longos trechos de um roteiro para garantir a qualidade da informação que será publicada, regularmente passo frio, fome, fico muito cansado, molhado, tomo tombos ou quase, me ralo, ganho hematomas, desidrato, dou risada sozinho, me queimo ao sol, encontro cobras, sou picado por insetos, fico sujo e nem sempre posso tomar banho, durmo em saco de dormir dentro de barracas ou em redes penduradas em árvores, passo muito tempo sozinho e sinto saudades, passo muito tempo calado e acho bom. O tempo todo busco o “conforto no desconforto”. Quase sempre encontro. Enfim, vivo situações que, de alguma forma, ajudam a definir o que eu acho ser “aventura”.

Viajar e trabalhar em campo significa, para mim, contato com a natureza. Nesse convívio aprendi não apenas a gostar da natureza, mas tive que estudá-la e conhecê-la melhor. Quando olho uma mata ou montanha, por exemplo, além da diversidade biológica e geológica, vejo questões de segurança, acessibilidade, chances de mudança que possam afetar o roteiro e a visitação, possibilidades de diversão e necessidade de mínimo impacto.

Então, será que meu trabalho, meu estilo de vida, minha rotina profissional podem ajudar a definir o que é “aventura”? Talvez sim…

1) Não consigo imaginar aventura sem desafios, sem expor nossas fraquezas e habilidades à luz do maior conjunto harmônico e dinâmico de força e sutileza que conhecemos: a natureza. Desafio físico e psicológico, mas também ético e filosófico. Algo que nos ajude a entender e definir nosso papel no Grande Conjunto.

2) Não consigo imaginar aventura sem busca por conhecimento, sem estudo, sem preparação, sem metas que exigem algum tipo de evolução pessoal mais qualitativa que quantitativa, sem partirmos do pressuposto que precisamos aprender.

3) Não consigo imaginar aventura sem a percepção da natureza como parte de nós e de nós como parte dela. É muito comum ouvir alguém dizer ao voltar de uma “aventura” que teve a sensação de “insignificância diante da natureza”. Isso é resultado do nosso isolamento, da distância que nos separa da natureza. Não consigo ver aventura como competição contra a natureza, mas sim como um processo de integração com a natureza.

Então, resumidamente, para mim aventura tem que ter desafio, aprendizado e integração com a natureza. Sem esses elementos, fico sempre com a impressão que a palavra “aventura” é apenas um rótulo sem conteúdo, um artifício de marketing, um discurso vazio.

E você? Concorda com esses argumentos? O que é aventura para você? Aproveite e vote na enquete ao lado…

2 respostas para “DEFINIÇÃO DE “AVENTURA””

  1. Renato Granieri disse:

    Guilherme,

    Gosto muito de saber a origem das palavras, q muitas vezes se explicam por si só.
    Aventura, do latim Adventura, quer dizer “o que esta por vir. Para mim esta é a melhor explicação.

    Quando planejamos uma viagem, qualquer q seja, sempre saímos em busca de uma aventura, pq sempre acontecem fatos esperados e inesperadas (o que esta por vir).

    O mesmo significado podemos aplicar em uma Corrida de Aventura, q é uma corrida onde milhões de variáveis estão por acontecer. Pense no q pode acontecer em um trecho de canoagem, de bike, de trekking ou de um rapel. Inúmeros imprevistos, além da navegação q sempre esta envolvida.

    O que esta por vir para você?

    [ ]

    Renato

  2. Anonymous disse:

    Olá Gui, tudo bem? Quanto à sua pergunta, vc já foi ver a etimologia de “aventura”? Vem do latim “ad ventura”, que é, literalmente, “em busca da felicidade”. Isso já responde também a sua enquete: quem de fato vive, procura aventuras todos os dias. Seja desbravando novos caminhos em regiões inóspitas, seja decorando as curvas do corpo da mulher amada, seja construindo uma imensa barragem, seja lendo “Dom Casmurro”.
    Um abraço,
    Zeca Moraes

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