HOMENAGEM A CLEM LINDENMAYER

10 de outubro de 2010

Ontem fiquei chocado ao descobrir que Clem Lindenmayer havia morrido. Em plena era da informatização e da informação rápida, fiquei sabendo de sua morte com vários anos de atraso. Seu corpo foi encontrado em uma trilha no sudoeste da China em julho de 2007.

Nunca conheci Clem pessoalmente, mas sinto como se tivesse perdido um amigo…

Depois de muitos anos praticando mountain bike e depois de já haver escrito o Guia de Trilhas BBV Banco, com 25 trilhas de mountain bike próximas da Grande São Paulo, decidi fazer o trekking em Torres del Paine, na Patagônia chilena. Era 2004 e ofereci ao meu mailing list a possibilidade de algumas pessoas me acompanharem nessa aventura, em um esquema de cooperativa. Cinco malucos aparecerem e nós partimos para a jornada, depois publicada na revista Aventura & Ação (link para cópia da matéria no site da Kalapalo Editora). Como nenhum de nós havia estado na região antes, para me preparar para a viagem, comprei o livro Trekking in the Patagonian Andes, da editora Lonely Planet e de autoria de Clem Lindenmayer.

Fiquei encantado com o livro, com o estilo do autor e o imenso trabalho por ele realizado na obra, mapeando todos os principais roteiros de trekking da Patagônia e da Terra do Fogo, tanto na Argentina quanto no Chile. 35 roteiros muito bem descritos! Suas observações pontuais sobre geologia, fauna, flora, cultura local, história e geografia enriqueceram muito a experiência em Torres del Paine. Seu humor árido e e áspero combinavam bem com a região.

O livro me inspirou a produzir a coleção Guia de Trilhas Trekking, com outra linguagem, outra proposta editorial e adaptado ao público brasileiro, mas definitivamente Clem era a inspiração por trás desse meu trabalho.

Quando decidi fazer e mapear o roteiro Dentes de Navarino, na Ilha Navarino, Terra do Fogo chilena e o “trekking mais austral do mundo” (que depois publiquei no Volume 2 da coleção Guia de Trilhas Trekking), fiquei surpreso com o que descobri…  O governo chileno havia nomeado algumas formações geográficas em homenagem ao escritor e aventureiro que percorreu e mapeou o interior da ilha, colocando Navarino no mapa mundial de trekking.

Em nenhum lugar do livro de Clem havia essa indicação, mas os mapas oficiais da Ilha Navarino do IGM (Istituto Geografico Militar), equivalente ao nosso IBGE, apontavam um Cerro Clem e os Montes Lindemayer. Na ilha todos afirmavam que Clem havia descoberto e desenhado sozinho a trilha que dá a volta nas montanhas pontiagudas conhecidas como Dientes del Perro, descritas nos diários de Charles Darwin. Seu trabalho havia merecido esse agradecimento especial.

Clem não se limitava a mapear e publicar roteiros já consagrados, ele também explorava e pesquisava, atento às possibilidades e potencial de cada lugar, sempre com o foco no contato estreito e harmonioso com a natureza e em desafios pessoais – as bases do conceito de aventura.

Nascindo na Austrália, Clem Lindenmayer falava alemão, espanhol e mandarim, além do inglês. Foi autor também do guia Walking in Switzerland, além de ter ajudado a atualizar guias sobre a China, Malásia, Alemanha e Suécia, todos para a Lonely Planet. Seu corpo foi encontrado em Riwuqie Peak (4.600 m), na província de Sichuan, uma extesão dos Himalaias que já pertenceu ao Tibet. Ele estava desaparecido havia três meses. Essa área é notoriamente perigosa para escaladores, com 20 picos acima de 6.000 metros e o Monte Gongga (7.556 m), pico mais alto da região onde mais de 20 pessoas já morrem desde 1957 e apenas 24 escaladores acalçaram o cume. Clem não estava trabalhando para a Lonelly Planet quando morreu.

Seu corpo foi cremado na montanha onde foi encontrado e suas cinzas enviadas a Melborne, Austrália.Clem vivia nos Alpes suíços nos últimos vinte anos e tinha 47 anos (minha idade hoje) quando morreu.

Descanse em paz, companheiro, e muito obrigado por tudo!

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