SOBREVIVENCIALISMO É PARA OS FRACOS!

22 de setembro de 2024

Cansei de ouvir falar de sobrevivencialismo como se fosse algo bom ou fizesse algum sentido. Minha filosofia de vida é outra e se se tivesse nome se chamaria: VIVENCIALISMO

O que é VIVENCIALISMO? É querer tudo o que a vida tem a oferecer, confortos e desconfortos, vitórias e derrotas, sucessos e fracassos. Vida plena. Se preparar para a sobreviência é pautar a existência a partir do medo, viver na paranoia. Estar preparado para qualquer eventualidade não significa ter um kit debaixo do banco do carro blindado, andar armado ou ter coleção de facas. O VIVENCIALISTA busca saúde, qualidade de vida e carrega a preparação no coração e na mente, não pendurada na cintura, num coltre…

O grupo nas fotos abaixo é um bom exemplo de VIVENCIALISMO. Dos oito alunos do nosso CURSO DE BIKEPACKING, um cruzou Cuba sozinho de bicicleta, outro passou dois meses na Mongólia conhecendo o país, com inclusive um roteiro de trekking exploratório. Medo? Claro que todos têm medo, o truque que o VIVENCIALISMO ensina é não deixar o medo ter a última palavra. Enquanto o sobrevivencialismo tranca portas e janelas, o VIVENCIALISMO escancara o mundo… 

 

Poucas coisas são mais importantes do que a postura que adotamos diante da vida. Apostar do coletivo, desprezar o individualismo, confiar antes de tudo, ser mais curioso do que desconfiado, ser contra qualquer expressão de violência, respeitar todas as formas de vida, entender que a diversidade é a fonte de toda existência… Essa é a postura e a filosofia que prega o VIVENCIALISMO

Se investimos na preparação do corpo e da mente, se aprendemos técnicas e habilidades, se investimos em equipamento e tecnologia apropriadas, teremos as três ferramentas essenciais para viver plenamente e não apenas sobreviver. A preocupação com a defesa, a autodefesa, o contra-ataque, a rota de fuga e assim por diante, nos coloca contra o mundo, enquanto o mundo pode estar do nosso lado… 

Nessas outras fotos, abaixo, um grupo de três alunos explorou comigo um roteiro pouquíssimo conhecido, quase abandonado, no interior profundo da Patagônia chilena conhecido como RUTA DE LOS PIONEROS. Nenhum de nós havia estado lá antes, mas com a preparação adequada, as habilidades necessárias e o equipamento correto percorremos os cerca de 100 km de forma autossuficiente sem grandes sustos — o que não quer dizer que não nos perdemos, várias vezes por dia inclusive. No VIVENCIALISMO perder-se não é problema, pior é ficar trancado em casa.

Enquanto isso, os sobrevivencialistas sonham com casas-bunkers, carros blindados, coletes à prova de balas, armas e mais armas, perdidos em teorias conspiratórias sem pé nem cabeça como se o mundo fosse perigoso por natureza. Eles não conseguem entender que o perigo está com eles! Quem tem medo se encolhe e encolhe o mundo à sua volta. O VIVENCIALISTA faz do medo um conselheiro, não um mestre, ouve sua voz trêmula e entra mesmo assim no bosque patagônico desconhecido desejando encontrar um puma, uma onça parda, porque isso é viver

Ir onde ninguém foi, fazer o que ninguém fez, abrir caminho para que outros possam nos seguir. Desbravar para nós, VIVENCIALISTAS, significa tornar dócil e familiar, não submeter, arrasar, massacrar. Queremos ser pilotos e não passageiros de nossas vidas. Nem precisa fazer algo grande ou inédito, basta ser genuíno. Quem copia não cria e nada é mais poderoso do que a criação. Para dar a volta ao mundo é preciso, primeiro, pisar para fora de casa. Ninguém dá a volta ao mundo sem a ajuda de uma multidão de estranhos… 

Eu poderia escrever páginas e páginas aqui, todas ilustradas com dúzias de exemplos de alunos (hoje amigos ou irmãos) que exploraram ao meu lado, aprenderam técnicas e filosofia, ensinaram sobre camaradagem e generosidade, se deslumbraram ao meu lado com um tipo de beleza indescritível, passaram frio, sofreram de cansaço, dormiram mal, comeram pouco, mas terminaram a aventura com um sorriso tatuado no rosto. Tenho certeza que memórias profundas como cicatrizes foram adquiridas. 

Para nós, VIVENCIALISTAS, se não for bom para todos, não adianta ser bom só para alguns. Ninguém fica para trás. Minha prosperidade não pode acontecer às custas da prosperidade dos outros. Tudo no universo está em movimento, tudo flui, então aquilo que é artificialmente represado e acumulado causa carência em algum lugar. O mundo tem o tamanho das nossas pernas e tudo o que precisamos deve caber numa mochila. A verdade transparente não esconde armadilhas, não decepciona.

Para quem pergunta se sou sobrevivencialista, a resposta inequívoca é não! Sou VIVENCIALISTA porque sobreviver não basta para mim! E para comemorar essa plenitude da vida, vou começar a produzir uma galeria dos meus VIVENCIALISTAS favoritos… Aguardem! 

P.S.: O cara na imagem da capa desse artigo é um dos meus VIVENCIALISTAS favoritos de todos os tempos: Sir Richard Francis Burton (1821-1890) 

5 respostas para “SOBREVIVENCIALISMO É PARA OS FRACOS!”

  1. Ricardo Silva disse:

    Pô, agora sim li o artigo que sugeriu, também muito bom e verdadeiro, à muito já deixei de seguir alguns canais no YouTube desses sobrevivencialistas parecendo que vão para uma guerra, são como militares contra as florestas, como elas fossem um inimigo potencial, e não um aliado.

  2. Charles Maciel Falcão disse:

    Adorei o texto, parabéns. Me junto a vc, ainda que remotamente, em prol de “textões” ricos em possibilidades e na busca por caminhos novos ou sendo novo em caminhos já conhecidos. Afinal, “perder-se também é caminho”, como nos ensina Clarice Lispector

  3. Paulo Remota disse:

    Tinha pensado em escrever algo mais extenso sobre o ridículo sobrevivencialismo, especialmente sobre aqueles americanos desocupados e paranoicos do YouTube, que ficam armazenando latas de conserva, pacotes de batata frita e doritos debaixo da terra em bunkers de concreto, cujo investimento poderia virar muitas moradias para gente que anda por cima da terra em países pobres. São uma gente fofuxa se armando com fuzis AR-15 e esperando o apocalipse zumbi, ou algo assim. Ia escrever sobre esta escumalha, mas, mudei de ideia. Me dei conta de que é inútil criticar o ridículo e que estas pessoas se enquadram, facilmente na Teoria da Estupidez (Dietrich Bonhoeffer). Cultuar a vida, a natureza a entrega entre humanos e seus inúmeros desafios e possibilidades seria mais fácil, mais poético e resumido.
    Vou deixar uma única frase de John Lennon (que, talvez, nem seja dele, mas não importa mais) sobre perder tempo na vida com tolices ou estupidez.
    “Life is what happens to you while you’re busy making other plans”.
    A vida é o que acontece com você enquanto você está ocupado fazendo outros planos.

  4. Joao Marcos disse:

    Mais uma excelente reflexão. Parabéns pelo texto.

  5. Antonio Carlos disse:

    O post excelente e os comentários (até aqui 4) um alento.
    Obrigado

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